Estudos apontam que dependência pode começar na infância.
O uso de bebidas alcoólicas por jovens é um tema que preocupa vários segmentos da sociedade. Profissionais de saúde denunciam que esse precoce consumo pode levar a uma série de complicações e aumentar o risco de dependência de álcool na fase adulta, entre outros problemas. Segundo dados do 1º Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, 48,3% dos jovens de 12 a 17 anos já fizeram uso de álcool. Entre 18 e 24 anos, esse número atinge 73,2%.
Já estatísticas do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), da Secretaria de Saúde de São Paulo, revelam que 40% dos adolescentes e 16% dos adultos que procuram auxílio ou tratamento para deixar o alcoolismo experimentaram bebida alcoólica antes mesmo dos 11 anos de idade. O que chama a atenção nestes levantamentos é o fato de muitos jovens terem se iniciado nesta dependência precocemente.
De acordo com a psiquiatra Camila Magalhães Silveira, coordenadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), “a dependência do álcool é um transtorno complexo, que envolve aspectos genéticos, psicológicos e socioculturais. Entretanto, as ações, palavras e opções dos pais e familiares com relação ao consumo de álcool também exercem uma grande influência sobre as crianças e adolescentes”.
Dados do Cratod também demonstram que em 39% dos casos de alcoolismo entre os jovens, o pai bebia abusivamente; em 19%, a mãe; e em 11%, o padrasto. Quando os adultos procuram ajuda contra o alcoolismo, em muitas situações já se envolveram com outras drogas, estão vivendo em depressão (com algumas tentativas de suicídio) ou com alguma sequela ou doença decorrente do consumo abusivo.
Diversos fatores influenciam o consumo
Quando os jovens recorrem ao órgão da Secretaria de Saúde, na maioria dos casos é porque se envolveram em conflitos na sociedade ou na própria residência. “Há diversos fatores fisiológicos, ambientais e sociais que influenciam o uso de álcool. Entre os fisiológicos, estima-se que os fatores genéticos expliquem cerca de 50% das vulnerabilidades que levam a beber em excesso - principalmente genes que estariam envolvidos no metabolismo do álcool e/ou a sensibilidade dos efeitos do álcool”, acrescenta Camila.
O alcoolismo prejudica muito o corpo humano. “É um depressor do Sistema Nervoso Central (SNC) e age diretamente em diversos órgãos, tais como o fígado, o coração, vasos e na parede do estômago. No SNC, por exemplo, pode provocar amnésia anterógrada (“blackouts” alcoólicos), déficits cognitivos temporários e prejuízos nos processos de aprendizado e memória. Além disso, o uso do álcool e transtornos relacionados (abuso e dependência) estão associados a cerca de 60 tipos de doenças e lesões, que podem ser separados em três categorias: condições de saúde totalmente atribuíveis ao uso de álcool (relação de causalidade direta, como psicoses alcoólicas, abuso e dependência de álcool, síndrome alcoólica fetal, cirrose hepática, entre outras); condições crônicas em que o álcool é fator contribuinte (como câncer de boca, de orofaringe e de mama, aborto espontâneo); e condições agudas em que o álcool é fator contribuinte (como acidentes automobilísticos, quedas, envenenamento, afogamentos, homicídios, suicídios, etc.).
Segundo a especialista, o consumo do álcool pode também desencadear doenças mentais como depressão, transtorno bipolar e síndrome do pânico. Seu consumo nocivo pode ter diversas consequências sociais negativas, como violência, desemprego, absenteísmo, entre outras.
Campanhas para diminuir o consumo
Muitos setores da sociedade criticam o excesso de publicidade das bebidas alcoólicas e defendem fortes campanhas de conscientização específicas, principalmente as voltadas para as crianças. “Campanhas educativas são importantes para reduzir o uso nocivo de álcool, mas são mais efetivas quando acompanhadas por outras estratégias (como, por exemplo, maior fiscalização da venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos de idade, da direção de veículos automotores sob influência dos efeitos do álcool, entre outros)”, destaca a coordenadora do Cisa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou, recentemente, um estudo denominado Estratégia Global Para a Redução do Uso Nocivo de Álcool. “Ele traz uma série de sugestões de ações para diminuir as consequências negativas do uso dessa substância. De acordo com o documento, a implementação de tais estratégias deve ser compartilhada entre diversos setores da sociedade, como profissionais da área da saúde, familiares, educadores, políticos e a indústria de bebidas”, conclui Camila
Fonte: ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)
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