quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Viciados em Brasília vivem até dentro de esgotos para consumir crack

Em uma reportagem especial, o Bom Dia Brasil revela o drama da droga na capital do Brasil. Vidas na escuridão são destruídas pelo crack.

Imagens fortes mostram pessoas vivendo como ratos, em esgoto. Gente que abandonou a vida por causa das drogas. São flagrantes gravados pela equipe de reportagem do Bom Dia Brasil a poucos quilômetros de Brasília e até mesmo no centro da capital federal. O avanço do tráfico e o caminho desse comércio são conhecidos da polícia. O resultado é um quadro de degradação.

O número de viciados em crack tem aumentado assustadoramente, e são cada vez mais jovens. Trata-se de um combate que só será possível se for feito de maneira integrada, com participação da Polícia Federal, que cuida das fronteiras, e das polícias Civil e Militar de Goiás e do Distrito Federal.

Vidas na escuridão são destruídas pelo crack. “Eu dei brecha e deixei o diabo entrar, invadir e destruir. E me levou para esse mundo”, conta um homem. “Comecei na maconha, depois bebida, depois a ‘merla’ e depois esse ponto final”, relata outro homem. “A química já tomou conta do meu organismo. Eu não consigo ficar sem tomar”, diz uma mulher.

Na cidade de Ceilândia, a 25 quilômetros de Brasília, encontramos usuários de crack vivendo nos subterrâneos da rede de esgoto. Muitos dependentes do crack vão até os bueiros para consumir a droga. Mas muitos deles também já perderam tudo, não têm mais onde morar e passam a maior parte do tempo nos bueiros. É onde eles vivem.

Uma mulher de 40 anos perdeu o emprego e já esteve presa. Deixou os três filhos. “Só destruição, só destruição”, lamenta. São como vidas quase invisíveis para quem passa lá fora. “É o que eu mais sonho na minha vida é poder andar de cabeça erguida. Não como um bicho, como um resto”, sonha um viciado.

Ao longo da linha do metrô, o tráfico é feito à luz do dia. Um casal dá dinheiro a um traficante. Ele entrega as pedras de crack e esfrega a mão na roupa para tirar os resíduos. Usuários preparam os cachimbos para queimar as pedras e fumar a droga. O pastor evangélico Luciano Gonzaga faz um trabalho de assistência com os viciados em crack de Ceilândia.

“Esse lugar aqui, para mim, é o último estágio. A pessoa morar dentro de um esgoto significa que ela está morando no lixo”, observa o pastor.

No centro de Brasília, mais flagrantes: um rapaz traz um par de tênis para um homem de boné, que é o traficante. Outro traz óculos. É o pagamento pelo crack. Um adolescente traz dinheiro e recebe a droga. Outro homem compra o crack, dá uma pedra para um menino e se esconde com uma mulher embaixo de um cobertor para fumar a droga. Depois, fuma com o menino.

“Com certeza é uma epidemia”, aponta o psiquiatra Rafael Boechat, que também é professor da Universidade de Brasília (UnB). Boechat trabalha com dependentes de droga há uma década. Nos últimos cinco anos, viu crescer o número de viciados em crack. São cada vez mais jovens e de todas as classes sociais.

“Acho que nós estamos perdendo uma geração bastante jovem entrando nessa droga, que é muito pesada. Com isso, o país perde muito. Perde mão de obra e toda uma geração”, afirma o psiquiatra Rafael Boechat.

Segundo a polícia, até chegar a Brasília, o crack percorre um longo caminho. A pasta base da cocaína vem da Bolívia, entra no Brasil por Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em laboratórios clandestinos em Goiás, a pasta base é misturada a produtos químicos para fazer as pedras de crack, que chegam a Brasília. Em 2010, a polícia apreendeu 35 quilos de pedras de crack em Brasília, três vezes mais do que no ano anterior.

“Nós temos de trabalhar de maneira bastante determinada para pegar os narcotraficantes. Trabalhos estes que têm de ser integrados e coordenados por uma inteligência única, que possa fornecer elementos para as autoridades policiais trabalharem de uma maneira mais eficaz no combate às drogas”, explica Daniel Lorenz de Azevedo, secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.

Mas só a repressão não basta. É preciso tratar os dependentes, afirma o psiquiatra Rafael Boechat, que critica a omissão dos governos.

“O custo do tratamento em si é barato. A gente precisa de pessoas, de profissionais treinados e de estrutura física simples. Isso é bem barato, se comparado a todo prejuízo que a droga causa. A gente sabe que tem o que fazer, sim, e não está se fazendo porque não é prioridade”, conclui Boechat.

A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal disse ainda que existe a preocupação de identificar, além do pequeno fornecedor que atua nas ruas, os médios e grandes traficantes que agem na região do entorno do Distrito Federal.

Fonte: Bom Dia Brasil

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