Em artigo publicado em ZH, o jornalista Marcos Rolim aborda pesquisa da USP, em que 50 dependentes químicos de crack foram submetidos a tratamento experimental de redução de danos, recebendo em troca do crack a maconha.
Alega que a maconha pode ser porta de saída para a dependência química por drogas pesadas. No dia seguinte, os psiquiatras Félix Kessler e Sérgio de Paula Ramos, que possuem destacada atuação nesta área, imediatamente questionaram a pesquisa. Recentemente, em parceria com a UFRGS e com apoio da RBS, a AMP/RS organizou o I Congresso Internacional Crack e outras Drogas, reunindo especialistas do México, Colômbia, Argentina e do Brasil com objetivo de debater o tema e buscar caminhos para qualificar a atuação no tocante às políticas públicas de prevenção, tratamento e redução da oferta de drogas.
Reunidos, profissionais de diversas áreas (psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, policiais, promotores de justiça, educadores e jornalistas) debateram a questão das drogas e, quase a unanimidade, concluíram ser temerária a ideia de descriminalização do uso da maconha. A experiência geral é a de que a maconha, assim como o álcool, é porta de entrada para drogas mais pesadas. O custo social que elas representam no Brasil, pela incidência direta na violência urbana e doméstica, pelos investimentos em segurança e saúde pública e pela desagregação familiar, faz com que nos preocupemos toda vez que se defende publicamente a descriminalização. Parece óbvio que o poder econômico do tráfico possui ligação direta com o número de usuários. A legislação brasileira criminaliza genericamente o uso de drogas, porém quem define quais são as substâncias proibidas é uma portaria da Agência de Vigilância Sanitária.
Pode-se pensar em, excepcionalmente, permitir a utilização médica como redução de danos. A questão é que atualmente traficantes têm misturado fragmentos de crack na maconha. Em São Paulo chamam de “mesclado” e aqui de “pitico”. A psiquiatra Solange Nappo, da Unifesp, afirmou, durante o mencionado congresso, que em SP praticamente não há mais maconha “pura”. Nossos jovens estão atentos aos malefícios do crack, mas desprevenidos em relação à maconha. Com isso, traficantes têm investido na venda da maconha misturada e estão, indiretamente, os viciando em crack. Registro que toda manifestação a favor da descriminalização da maconha prejudica o difícil e árduo trabalho de prevenção ao uso de drogas.
Fonte: Zero Hora/ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)
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