quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Pinga de R$ 1 vira caso de saúde pública


Vendida por R$ 1 em mercadinhos e botecos do centro, uma pinga conhecida como "barrigudinha" tem agravado a situação de moradores de rua e usuários de crack de São Paulo. Embalada em garrafa plástica redonda de 490 ml, ela é destilada de forma clandestina e tem efeito devastador, segundo médicos, assistentes sociais e consumidores.

A "barrigudinha" pode resultar em coma alcoólico, amnésia e intoxicação mesmo em pequenas doses, além de devastar a pele do rosto e dos braços com manchas e causar muitas vezes hemorragia intestinal. Tornou-se comum a procura de auxílio médico após a ingestão da bebida, que não passa pela curtição em tonel adotada na produção de cachaças, pingas e uísques.

No caso da "barrigudinha", o álcool e o melaço da cana são misturados e embalados muitas vezes no mesmo dia, o que torna a bebida mais agressiva. Sem ver o rótulo, é impossível diferenciar o cheiro da pinga e de um vidro de álcool de cozinha. "Eu bebo de tudo, mas essa barrigudinha é o capeta. "Quando não mata, te deixa aleijado", afirma o catador Euvaldo Ribeiro, de 32 anos.

Ele deixa de lado o tom de brincadeira ao relatar sua mais recente experiência com a pinga. No mês passado, ele cortou a testa após "matar três goles seguidos" da "barrigudinha", pouco antes de entrar no albergue para dormir, no fim da tarde. "Apaguei e quando acordei já estava com 12 pontos na cabeça. Não dá para beber essa pinga rápido como as outras, você desmaia sem nem perceber", conta.

 Assim como outros moradores de rua que passam o dia catando papelão, Ribeiro optou pela "barrigudinha" para economizar. O litro de outras pingas também consideradas baratas, como a 51, a 3 Fazendas e a Velho Barreiro, não sai por menos de R$ 5. "Uma dose no bar custa R$ 1. É melhor comprar logo uma "barrigudinha".

Alerta. A pinga virou "remédio" para abaixar a paranoia dos usuários de drogas da cracolândia. Nas Ruas Helvétia e Glete, é comum ver os dependentes caídos nas calçadas, com a garrafinha de plástico achatada nas mãos. "É mais um problema que veio agravar as condições dos usuários de drogas. Nas nossas unidades alertamos sobre o potencial de destruição dessa pinga", afirma a médica Rosângela Elias, coordenadora de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde.

Fonte: UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

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