Cidade virou ponto de partida da cocaína rumo à Europa na década de 70. Na mesma época, surgiram as facções criminosas dentro dos presídios.
O tráfico se tornou um crime organizado no Rio de Janeiro a partir do final da década de 1970. O antropólogo Paulo Storani, que foi oficial do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar, diz que a cidade virou um ponto na rota de distribuição da cocaína que saía dos países andinos, em direção à Europa. À medida que a produção crescia nestes países, aumentava a oferta da droga dentro da cidade, e o preço diminuía para o usuário.
Nessa mesma época, surgiram as facções criminosas, dentro de presídios. Um grupo de presos comuns se uniu aos presos políticos para combater o bando que dominava as cadeias e que chegava a cobrar pedágio pela segurança dos detentos.
Os assaltantes comuns aprenderam as técnicas de organização e guerrilha dos militantes políticos. Segundo a antropóloga Alba Zaluar, logo os criminosos descobriram um novo negócio. “Eles ficaram sabendo que assalto não estava dando tanto dinheiro, o que estava dando muito dinheiro era o tráfico. E passaram então a traficar. O tráfico se expandiu com muita rapidez no início da década de 80”, disse.
O ex-oficial do Bope explica que as primeiras favelas dominadas em larga escala pelo tráfico foram a Mangueira, o Jacaré e o Morro do Alemão. Nos anos 1990, três facções disputavam os pontos de vendas de droga. As guerras entre elas fizeram os traficantes se armar cada vez mais.
“Eles armavam pequenos exércitos e invadiam a área ocupada pela facção rival, na tentativa de ampliar o seu mercado. A facção rival fez a mesma coisa, comprou armas tão poderosas, começou a se estruturar, e aí começaram a verificar a guerra do controle na droga do Rio de Janeiro”, explicou.
Ele acredita que isso aconteceu por negligência das autoridades públicas ao longo de muitos anos: “Por que conseguiram comprar armas? Diante das fronteiras continentais, uma incapacidade da União, dos estados que fazem fronteiras com países que fornecem drogas. Essa incapacidade de fiscalizar suas fronteiras, fez com que as armas chegassem em qualquer lugar do país”, afirmou.
Em 2008, o estado decidiu fazer uma experiência para pacificar as favelas. Surgiu a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). No Morro Santa Marta, Zona Sul do Rio, foi instalada há quase dois anos a primeira UPP. O objetivo? Acabar com a violência e o domínio territorial do tráfico de drogas.
A UPP já levou policiamento permanente para 12 favelas na cidade. E cerca de 200 mil pessoas já não vivem sob o comando dos bandidos. A 13ª unidade está em processo de implantação. Será no Morro dos Macacos, onde no ano passado os traficantes derrubaram um helicóptero da polícia.
“A ideia que eles têm é de ocupação social, ocupação do estado, pela polícia. E uma redução significativa dos indicadores de violência, homicídio, e outros, a curto prazo”, explicou.
Os traficantes reagiram à perda de território e esta semana promoveram uma onda de ataques. Até sábado (27), foram 96 veículos queimados. A polícia partiu para o confronto e reforçou a vigilância na cidade. Deu certo. Nesta madrugada, houve apenas quatro atentados.
Fonte: G1/RJ
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